sábado, 20 de agosto de 2011

A ECONOMIA COLONIAL NO SÉCULO XVIII


Em termos de valores, o que se conseguiu com a exportação do açúcar jamais foi ultrapassado pela exportação do ouro, e com a decadência da mineração na segunda metade do século XVIII as atenções voltaram-se para a agricultura na chamada "Renascimento da Agricultura".

Em partes esse renascimento foi consequência da própria atividade mineradora que permitiu a formação de um mercado interno, bem como as transfomações que ocorreram no plano internacional. O incremento demográfico na Europa do século XVIII e a Revoluçào Industrial da Inglaterra.

A industrialização inglesa, iniciada no setor têxtil, promoveu um considerável aumento na demanda por algodão. A Índia, principal fornecedora não pode suprir tal crescente procura e as colônias sulistas dos Estados Unidos cessaram o fornecimento para a Inglaterra devido ao rompimento com esta e início do seu processo de independência (1776-1781). Favorecido por estas circunstâncias, o Brasil intensificou a produção e exportação de algodão.

A produçào açucareira também ingressou numa fase de expansão, pois com a Revolução Francesa (1789-1799), eclodiram rebeliões em diversas colônias, como o Haiti, importante centro de produção de açúcar. Os engenhos do Brasil foram reativados, bem como outras áreas passaram a ser utilizadas para aumentar a produção, favorecidos pelo período de paz em Portugal e a sua neutralidade com os conflitos existentes.

Com o crescimento das áreas povoadas no Brasil, aumentou-se a demanda não somente por alimentos, mas também havia a necessidade de moradia, ferramentas e vestimentas, entre outros produtos. Para satisfazê-las, surgiam nos povoados pequenas oficinas de carpintaria, olarias, ferreiros ambulantes, e até pequenas siderurgias, especialmente na região das Minas Gerais. As mulheres teciam em suas casas e tal produção resultou no surgimento de manufaturas têxteis em Minas e no Rio de Janeiro, como organizações comerciais voltadas para produção em larga escala. O desenvolvimento destas atividades, contudo, foi prejudicado pela expedição em 1785 de um alvará proibindo a manufatura de tecidos na colônia.

A necessidade de abastecimento estimulou o comércio marítimo entre os portos do litoral brasileiro (cabotagem).

A realidade colonial na passagem do século XVIII para o XIX era bem distinta daquela que se verificava nos séculos anteriores. A economia brasileira não se resumia ao açúcar e nem só de mercado externo vivia o Brasil.  


EXPANSÃO TERRITORIAL E O CICLO MINERADOR.


Conforme já foi dito, a pecuária desenvolveu-se como atividade complementar à economia açucareira e representou um significativo papel no processo de desbravamento do interior brasileiro seguindo o deslocamento dos rebanhos.

A colonização do Norte se deu pela preocupação portuguesa em garantir a posse e o acesso ao Rio Amazonas, principal via de acesso à América Central. Ali desenvolveu-se fortamente o extrativismo vegetal (cacau, guaraná, castanha, borracha, urucum, entre outros). Como tal atividade dependia essencialmente do conhecimento da área, o estabelecimento de missões jesuíticas tiveram grande importância para a integração da Amazônia à economia colonial.

Outro importante movimento de exploração do interior foi o Bandeirismo que, ao longo de três séculos apresentou os seguintes objetivos:

- Bandeiras de preação: Promovia a caça ao índio para utilização deste como mào de obra, principalmente no período da União Ibérica. Chocou-se muitas vezes com o interesse das missões jesuíticas.

- Sertanismo de contrato: Destinadas a subjulgar populações nativas rebeldes, perseguir escravos fugidos e destruir quilombos.

- Bandeiras de monções: Expedições comerciais para abastecer a região.

- Bandeirismo de prospecção: Ligado à mineração.

Todos estes acontecimentos foram mudando a antiga divisão da América abordada pelo Tratado de Tordesilhas. A fim de solucionar esta questão, outros acordos foram firmados: Tratado de Uthecht (1713-1715 - reconhecia a extensão do Brasil do Oiapoque até Sacramento e a possessão francesa das Guianas). Tratado de Madri (1750 - Sacramento voltava ao domínio espanhol em troca do centro-sul brasileiro e estabelecia-se o uti possidetis) e Tratado de Santo Ildefonso (1777 - confirmava a posse de Sacramento à Espanha).

Desde o século XVI, a economia açucareira era a atividade predominante da colônia, porém a partir de meados do século XVII, motivada pela forte concorrência antilhana, a Coroa Portuguesa voltou a estimular a procura de metais. Diversas expedições sertanejas oficiais, conhecidas como "entradas" partiram de diversas capitanias para o interior com a missão de descobrir metais e pedras preciosas. Destes, os maiores exploradores foram os paulistas.

Na década de 90 daquele século, iniciram-se as descobertas de metais preciosos no interior, chegando esta notícia rapidamente a Portugal. Na colônia a primeira consequência foi o deslocamento maciço da população para as áreas das minas. Os migrantes para esta região eram muito heterogêneos, mas principalmente destacavam-se paulistas e os estrangeiros, apelidados de emboabas.

Grande parte das descobertas de Minas foram feitas por paulistas e o rei de Portugal havia prometido entregar a propriedade das terras aos descobridores de minas. Contudo, a partir de 1700-1701 o Regimento das Minas garantiu a livre exploração das áreas, favorecendo os forasteiros. Com o excasseamento do ouro de aluvião e necessidade de maiores investimentos para a extração mais pesada, eclodiu a Guerra dos Emboabas (1707-1709), uma luta entre paulistas e portugueses pelo direito de exploração, da qual sairam vencedores os estrangeiros.

Depois da derrota para os Emboabas, os paulistas deixaram as Minas Gerais e partiram em direção ao Centro-Oeste, localizando outros pontos de mineração em Mato Grosso e Goiás.

Devido ao forte fluxo populacional para as regiões onde encontrara-se ouro, a Coroa portuguesa restringiu em 1720 o acesso às regiões das minas. As áreas eram divididas em lavras ou datas e em suas proximidades estabeleceram-se arraiais e vilas para o abastecimento.

Pelo regimento das minas, o principal imposto cobrado pela extração de ouro era o quinto, porém após a guerra dos emboabas e para diminuir o impacto do contrabando outros impostos foram criados: Pedágio sobre todos os produtos que entravam e saiam da região das minas, foram criadas as Casas de Fundição proibindo a circulação de ouro que não em barras, fundidos nas mesmas e descontado o quinto. Tal medida descontentou os mineradores e em 1719-1720 eclodiu um conflito armado conhecido como Revolta de Vila Rica, na tentativa de impedir a instalação das casas de fundição.

Em 1735 criou-se ainda a capitação, valor cobrado por pessoa residente nas Minas Gerais e em 1750 foi estabelecido um valor a ser arrecadado pela Intendência local, e em caso de não atingir tal quantia deveria ser utilizada a derrama, cobrança compulsória de impostos.

No campo político-social, houve a transferência da sede da colônia para o Rio de Janeiro, formação de um mercado interno articulado para abastecer as áreas de mineração que acabou por unir as regiões brasileiras (gado do nordeste, muares do sul, etc). Surgiu ainda uma nova classe social formada por comerciantes, profissionais liberais, professores, clérigos e burocratas e a elite se intelectualizou, com o envio dos jovens para faculdades européias. A manufatura desenvolveu-se também.

Não podendo arcar com os custos da manutenção de seus escravos, muitos pequenos mineradores davam a eles uma certa autonomia, permitindo que estes até trabalhassem por iniciativa própria em troca de uma parte do que fosse encontrado. Essa situaçào permitiu que alguns escravos acumulassem riqueza que posteriormente seria utilizada em sua alforria.

O crescente esgostamento das lavras e o arrocho fiscal promovido por Portugal favoreceu a propagação das idéias de liberdade e autonomia que já circulavam na Europa e na América do Norte.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A EUROPA NO SÉCULO XVII


O século XVII marcou a passagem da hegemonia dos reinos ibéricos para duas novas potências: Inglaterrra e Holanda. Enquanto Portugal e Espanha viveram um acentuado declínio, os ingleses e os flamengos fortaleceram suas economias e lançaram as bases de seus impérios coloniais, ancorando-se com competência nos princípios mercantilistas.

A descoberta de metais preciosos no Brasil no final do século XVII pareceu que faria Portugal ressurgir como potência, mas a política econômica dependente instalada no reino lusitano fez com que as riquezas minerais acabassem por fixar-se nos cofres de outros países, sobretudo na Inglaterra.

DECADÊNCIA ESPANHOLA

A crise espanhola começou a se delinear no final do século XVI, no governo de Felipe II, que enfrentou rebeliões em Nápoles, Andaluzia, Portugal e Países Baixos. Em 1588, Felipe II perdeu sua poderosa marinha de guerra (Invencível Armada) e viu a economia de seu reino se arruinar na longa guerra que resultou na independência holandesa.

Ao mesmo tempo, os ingleses começaram a avançar sobre o território espanhol na América, com a fundação da colônia de Virgínia. Os franceses, por sua vez, passaram a colonizar o território que atualmente corresponde ao Canadá, com a fundação de Quebec. A Espanha não tinha como resistir a estes ataques, sobretudo após a perda de sua marinha.

Do ponto de vista econômico, a Espanha importava praticamente tudo o que sua população consumia, fazendo com que toda a riqueza retirada da América fosse para outras nações, uma vez que havia a ilusão de que as jazidas aqui encontradas jamais terminariam, o que fez com que o reino espanhol não buscasse o desenvolvimento de suas manufaturas para atender o mercado interno, tampouco investimento em melhorias em técnicas agrícolas para aumentar a produção de alimentos. Aliados aos gastos excessivos da corte, todos esses fatores contribuíram para a decadência econômica espanhola.

CRISE ECONÔMICA PORTUGUESA

A União Ibérica mostrou-se fortemente desfavorável a Portugal que herdou todos os inimigos que a Espanha tinha. A Holanda invadiu suas colônias na América e África, fazendo com que o império português fosse enfraquecido devido as guerras espanholas.

A parcela da nobreza mercantil possuia muitos interesses na colonização e lutou pelo reconhecimento do Duque de Bragança como novo monarca português, consolidando em 1640 a separação da Espanha e o início da Dinastia de Bragança com D. João IV.

Porém os portugueses, assim como os espanhóis haviam alicerçado suas economias na exploração colonial, e com a efetiva perda ou temporária de muitas de suas colônias, sofreu grande crise econômica.

INGLATERRA

O século XVII foi marcado na Inglaterra por uma série de lutas políticas que opuseram de um lado a monarquia absolutista e a nobreza feudal e de outro a burguesia e a nobreza mercantil (que tinha transformado seus feudos em pastos para produção de lã).

En 1603, a Inglaterra passou a ser governada pela dinastia Stuart, cujo primeiro monarca foi Jaime I, que aliou-se a nobreza feudal e aumentou os impostos, provocando sério atrito com o Parlamento que reinvindicava o direito exclusivo de decidir sobre os impostos.

No setor econômico, milhares de camponeses eram expulsos da terra em virtude do cerceamento para criação de ovelhas e fornecimento de lã, promovendo inúmeras revoltas por melhores condições e que foram severamente punidos pelo Estado.

A disputa entre os grupos dominantes e o estado latente de revolta social foram responsáveis pela eclosão de uma Guerra Civil que durou oito anos (1641-1649) onde de um lado estava o monarca Carlos I e os proprietários de terras feudais e de outro estavam os comerciantes, a nobreza mercantil, os pequenos camponeses, artesãos trabalhadores das manufaturas.

Formaram-se dois exércitos dentro da Inglaterra, onde destacou-se Oliver Cromwell, um dos lideres dos puritanos. O conflito terminou em 1649 com a instalação de uma república puritana e a execução do rei Carlos I.

Sob a liderança de Oliver Cromwell a Inglaterra viveu um curto período de governo republicano (1649-1658) que foi denominado Commonwealth (Comunidade Britânica). Em pouco tempo porém muitas decepções foram causadas, primeiramente pelo massacre aos levellers, grupo que havia apoiado Cromwell mas que reinvindicava direitos sociais, e aos irlandeses que sonhavam que o novo governo lhes restituísse a liberdade.

No campo econômico entretanto Cromwell promoveu o desenvolvimento que possibilitaria a Inglaterra a tornar-se a maior potência mundial naval. Em 1650 lançou os Atos de Navegação, decretos que protegiam os comerciantes ingleses, sobretudo da concorrência dos holandeses. A Holanda reagiu e iniciou-se uma guerra (1652-1654) cuja vitória inglesa garantiu a ela hegemonia nos mares.

Com a morte de Cromwell, em 1658, uma série de crises políticas levaram os Stuarts novamente ao poder, assumindo o trono Carlos II, que tentou imediatamente restabelecer o Absolutismo. Diante de tal cenário o Parlamento se dividiu, um lado (Whig) formado pelos burgueses liberais defendiam a autonomia do Parlamento e de outro dos Tory, anglicanos e conservadores que apoiaram o Rei.

Em 1688, a Inglaterra era governada por Jaime II, que casou-se com uma princesa católica. Esse casamento fez com que os Tories retirassem seu apoio ao monarca e o Parlamento ofereceu o trono a Guilherme de Orange,  nobre protestante que governava a Holanda. Após a invasão, Guilherme tomou o trono, destituindo Jaime II e foi aclamado rei, após assinar a Declaração de Direitos que se comprometia a respeitar a soberania do Parlamento inglês.

Assim sendo, naquele momento, a classe que tinha maioria de representantes era a burguesia, por isso podemos dizer que a Revolução Gloriosa foi uma revolução burguesa que apesar de não ter mudado o regime político, mudou a classe social que efetivamente exercia o poder.



RESTAURAÇÀO PORTUGUESA E NOVA POLÍTICA COLONIAL PARA O BRASIL


Em 1640, após o fim do domínio espanhol, a economia portuguesa encontrava-se profundamente abalada. Depois da restauração, Portugal recuperou suas possessões africanas (Angola e Guiné) e o nordeste brasileiro, mas perdeu o controle do comércio oriental. O Brasil, naquele momento, era a mais valiosa possessão portuguesa, porém estava sobre forte concorrência holandesa.

Se não bastasse a concorrência ávida do mercado açucareiro representada pela produção das Antilhas, Portugal também não podia mais contar com o bem montado esquema holandês de distribuição do produto no mercado europeu. Bastante debilitado, não restou a Portugal outra saída que não aplicar a política mercantilista visando maior eficácia da exploração colonial no Brasil.

A nova política colonial portuguesa começou a se tornar mais rígida: em 1661, proibiu-se o comércio do Brasil com navios estrangeiros e, em 1684 foi proibido que navios portugueses frequentassem outros portos, fortalecendo o Exclusivo Metropolitano.

Foram criadas as companhias de comércio no estilo holandês (Companhia de Comércio do Brasil - 1649 e Companhia do Comércio do Estado do Maranhão - 16782) ambars a fim de deter o monopólio da venda de produtos metropolitanos, incluindo a compra e venda de escravos.

Com a ação de tais companhias, que tornaram único o fornecedor, impôs altos preços na venda de seus produtos enquanto que os oriundos da colônia eram desvalorizados, criando um imenso abismo entre os interesses coloniais e metropolitanos.

Houve ainda a criação do Conselho Ultramarino por D. João IV em 1640, encarregado exclusivamente da administração das colônias. Com o conselho, os poderes dos donatários, que já haviam sido limitados com a criação do governo-geral, diminuíram sensivelmente, tornando-os estritamente subordinados ao representante do rei. A autonomia das Câmaras também fora prejudicada, passando até os vereadores a serem nomeados pelo rei, neutralizando sua força.





quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O BRASIL HOLANDÊS


A primeira tentativa de invasão holandesa ocorreu em 1624, onde o alvo era Salvador, a capital da colônia. Diogo de Mendonça Furtado, governador da Bahia, mesmo com o conhecimento prévio do ataque não tomou nenhuma providência para repelir o iminente ataque, que ao se efetivar colocou em lugar deste o holandês Van Dorth.

Coube aos colonos a resistência, que alcançou êxito repelindo os invasores com o auxílio de uma esquadra luso-espanhola conhecida como "Jornada dos Vassalos" no ano seguinte, 1625. Apesar da derrota, a Holanda ainda manteve a firme idéia de conquistar o nordeste açúcareiro.

Em 1628, apreendeu nas Antilhas um dos maiores carregamentos de prata americana que ia para a Espanha e com os recursos deste feito financiaram uma segunda tentativa de invasão, tendo Pernambuco como novo alvo.

Em 1630 os holandeses chegaram a Pernambuco, dominando Olinda e Recife sem maiores dificuldades, apesar dos preparativos de defesa efetuados por Matias de Albuquerque, governador daquela capitania. Contra os invasores organizaram-se as "Companhias de Emboscada", contanto a resistência com o fator surpresa e o melhor conhecimento da área. A situação somente começou a inverter-se quando a Holanda passou a contar com o apoio de Calabar (traidor), além de índios tapuias, alguns lavradores, cristãos-novos, mestiços e escravos fugidos que participaram da exitosa campanha flamenga no Brasil.

A resistência aos holandeses não puderam contar com o apoio regular da Espanha, envolvida em outros focos de tensão, tais como a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) contra o avanço sueco na região que hoje corresponde a Alemanha. Além disso, um período de secas fragilizou a economia portuguesa, deixando-a sem condições de reprimir o ataque. Em 1635 consolidou-se o domínio holandês.

O Brasil holandês, ou Nova Holanda, era um empreendimento do qual se esperava extrair altos lucros. Foi enviado como governador-geral Maurício de Nassau, que aqui permaneceu de 1637 a 1644. Em seu governo, Nassau buscou a reorganização da produção açucareira bem como fortalecer a segurança. Buscou ainda a conciliação com os luso-brasileiros que permaneceram no domínio holandês e tratou de ampliar militarmente seu domínio territorial.

Nassau devolveu as propriedades tomadas aos seus antigos donos e concedeu a estes crédito e empréstimos a juros controlados, voltou a permitir o comércio com os Países Baixos e estabeleceu impostos mais baixos que os cobrados por Portugal. A produtividade da lavoura cresceu com a ampliação das áreas de cultivo e a introdução de novas técnicas. Além do açúcar, os holandeses incentivaram o cultivo de fumo e a extração de pau-brasil e madeiras para construção. Nassau instituiu ainda a tolerância religiosa e a igualdade de tratamento para holandeses e luso-brasileiros.

Foram organizadas as Câmaras dos Escabinos, presididas por holandeses (escoltetos), porém contavam com a representação dos luso-brasileiros também. Nos tempos de Nassau, Recife foi remodelada, pois este trouxe consigo vários artistas, homens da ciência, escritores e teólogos.

As relações entre os plantadores luso-brasileiros e a burguesia holandesa, entretanto, foi se desgastando com o decorrer do tempo. Os senhores de engenho que tinham contraído empréstimos não conseguiam saldar suas dívidas. Tais desajustes tornaram-se mais evidentes quando, em 1640, Portugal libertou-se do domínio espanhol, e levou ao trono D. João IV com o apoio da burguesia e da Companhia de Jesus. Assim sendo, Portugal reestabeleceu sua soberania e parte de seu império colonial.

Imediatamente Portugal e Holanda estabeleceram uma trégua de dez anos, comprometendo-se ambos a não ameaçar os respectivos domínios coloniais. A partir daí, a Companhia holandesa passou a diminuir seus efetivos militares a fim de conter gastos e demitiu Nassau, em 1644, substituindo-o por um Conselho de três membros. Ao sair, Nassau recomendou tolerância no trato com os senhores de engenho, conselho este que não foi acatado.

Tornou-se excessivamente severa a nova administração, sobretudo em relação a cobrança de dívidas e os prazos para saldá-las. As propriedades dos luso-brasileiros passaram a ser confiscadas e a tolerância religiosa não era mais observada. As tensões se acumularam e rebeliões eclodiram.

Em Pernambuco, um longo processo de rebeliões conhecido como "Insurreição Pernambucana" iniciou-se em 1645. O quadro político também modificou-se contra a Holanda com a aprovação por Oliver Cromwell dos Atos de Navegação em 1651, excluindo os flamengos do comércio colonial inglês. Os holandeses reagiram iniciando uma guerra naval em que seriam derrotados. A Inglaterra passou a apoiar Portugal. Èm 1653, uma tropa lusitana foi enviada ao Brasil, auxiliando os luso-brasileiros e culminando na expulsão dos holandeses em 1654.

Como resultado dos confrontos, a Holanda não somente perdeu o domínio sobre o Brasil como também o domínio marítimo para a Inglaterra que ascendeu no contexto político-econômico da Europa e estreitou suas relações com Portugal.

Os holandeses, levando consigo do Brasil mudas de cana e as técnicas de produção do açúcar, se instalaram nas Antilhas e em Curaçao e tornaram-se fortes concorrentes do Brasil no mercado açucareiro.

UNIÃO IBÉRICA E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O BRASIL


Em 1578, D. Sebastião, rei de Portugal, morreu na Batalha de Alcácer-Quibir, no norte da África em uma campanha militar contra os mouros. Assumiu o trono seu tio, o cardeal D. Henrique que faleceu dois anos depois sem deixar herdeiros. Com o fim da Dinastia de Avis, Felipe II, rei da Espanha, militarmente assumiu o trono, unindo os dois Estados em 1580. A nobreza e a burguesia apoiaram o novo monarca buscando manter seus interesses (manutenção dos privilégios da primeira e monopólio do tráfico negreiro e do exclusivismo comercial com as colônias pela segunda). Em 1581, Felipe II assinou o Juramento de Tomar, onde comprometia-se a não tratar Portugal como território conquistado e não interferiria na administração já implantada no Brasil, bem como conservar as leis, os costumes e o idioma português.

Entretanto, de imediato, Portugal herdou todos os inimigos da Espanha, dentre os quais Inglaterra, França e Holanda, sendo esta última a mais temível.

Para o Brasil, a União Ibérica representou um aumento no poderio do provedor-mor (cuidador das finanças), com o objetivo de diminuir a corrupção e os abusos na arrecadação; criação do Tribunal de Relações de Salvador (1587) e do estado do Maranhão (1621) na tentativa de melhor combater as incursões estrangeiras.

Dentre os inimigos da Espanha estava principalmente a Holanda, antiga possessão espanhola de grande prosperidade econômica e religião predominante calvinista. Com a subida ao poder de Felipe II, que pôs fim a tolerância religiosa que até então existia nos Países Baixos, eclodiram diversas revoltas, inicialmente contidas com forte repressão política e confisco dos bens, porém em 1581, as províncias do Norte formaram a União de Utrech enão mais reconheceram a autoridade do monarca espanhol, contando com forte apoio da Inglaterra e tornando-se uma nação independente.

Portugal mantinha com a Holanda estreitas relações comerciais, sendo inclusive tal nação a responsável pelo refino e distribuição do açúcar brasileiro. Porém, a Espanha havia estabelecido medidas restritivas ao comércio com os Países Baixos durante a guerra, levando os mercadores de Amsterdã a buscarem atuar diretamente nas Índias.

Em 1595, a Holanda conseguiu atingir o centro de produção de especiarias, criando um canal direto com o Oriente e estabelecendo forte concorrência com os produtos vindos pelas rotas portuguesas. Em retaliação, Felipe II proibiu o comércio espanhol com a Holanda.

Em 1602, a Companhia das Índias Orientais foi criada pelos holandeses, estabelecendo o monopólio no mercado das especiarias e impondo uma importante derrota econômica ao rei espanhol. O êxito dessa experiência induziu os holandeses, em 1621, a criarem a Companhia das Índias Orientais a quem foi concedido o monopólio do tráfico de escravos, da navegação e do comércio na África e América. A esta companhia também deve-se a decisão de conquistar o nordeste açucareiro no Brasil




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

BRASIL: COLÔNIA DE EXPLORAÇÃO


Ao contrário dos espanhóis os portugueses não encontraram, logo de início, no Brasil minas de metais preciosos, porém era necessário implantar na colônia uma prática econômica que gerasse lucros para a Coroa. Portugal havia perdido o monopólio do comércio com o Oriente para a Holanda e encontrou no açúcar uma fonte de lucro imediato.

Desde a instalação das capitanias hereditárias, os donatários eram obrigados a fornecer sesmarias, ou seja, terras para promover o efetivo povoamento da colônia àqueles que comprovassem dispor de recursos para tornar a terra produtiva. Ao sesmeiro cabia a propriedade da terra, com a isenção de dependência pessoal, inexistindo portanto a relação feudal de servo-senhor. Ao sesmeiro cabia também ocupar efetivamente a terra e fazê-la produzir sob pena de perder a concessão. Assim surgiram os grandes engenhos.

O cutivo da cana de açúcar tornou-se uma alternativa bastante lucrativa para a ocupação econômica da terra. Portugal já tinha experiência em tal cultivo adquirida nas ilhas do Atlântico, então associados aos holandeses, iniciou-se a agricultura de exploração açucareira. O Brasil produzia o açúcar e a Holanda o refinava e distribuía na Europa, gerando grandes lucros aos dois Estados.

A agricultura canavieira tinha um caráter extensivo: o crescimento se dava pela incorporação de novas terras e não pela melhoria de cultivo, o que acabou por desertificar várias áreas. Além da cultura da cana, passou ainda a ser desenvolvida a do tabaco, vendido na Europa e utilizado como moeda de troca por escravos na África, crescendo tais lavouras na mesma dimensão da necessidade de escravos.

De início, os povoadores incentivaram os indígenas a produzir alimentos que eram trocados por produtos europeus. Nas cidades, a falta de mantimentos também era frequente o que levou ao surgimento de lavouras dedicadas à produção de gêneros alimentícios, cujo cultivo era realizado em pequenas propriedades.

A pecuária foi um setor bastante expressivo, cuja origem remete ao governo de Tomé de Souza. O gado era utilizado como força de tração, porém com o gradual aumento dos rebanhos, o gado passou ainda a ser utilizado na produção de couro e como fonte de alimento. Uma grande vantagem atribuída a pecuária foi a interiorização do processo colonizador, uma vez que os deslocamentos do gado obrigaram seus criadores a penetrar no sertão em busca de pasto.

Na pecuária predominou o trabalho livre, porém na lavoura era predominante a mão-de-obra escrava, primeiro do indígena, porém devido aos diferentes modos de produção dos colonizadores e dos nativos, que não produziam para gerar excedentes e da constante oposição dos jesuítas, adotou-se o trabalho escravo do negro africano. Porém de todas as razões para a decisão da utilização do negro como escravo, a principal foi o fato do tráfico negreiro render vultuosos lucros para a metrópole portuguesa e para os comerciantes.

Também existiam nos engenhos, em pequeníssima escala, trabalhadores assalariados, como era o caso dos feitores, mestres do açúcar e capitães-do-mato.